segunda-feira, 22 de setembro de 2014

PONTO DE VISTA

IDEIAS , IMPRESSÕES E VOZ

 
                                             CUIDANDO O CUIDADOR
                                                                                           

Neste primeiro encontro, gostaria de abordar como ponto inicial o aspecto da deterioração da valorização do ser humano, e consequentemente da vida. É notório e sabido por todos, como anda a nossa sociedade revoltada com o aumento dos níveis de violência, mas não é isso hoje o que vou comentar. Os profissionais de saúde, mais especificamente, a equipe de Enfermagem, estão deixando de ver seu trabalho como uma preservação da vida, se esquecendo da importância do Cuidar, valorizando muito mais aspectos tecnológicos, em detrimento dos humanos. É comum vermos em UTls, os profissionais de Enfermagem manipulando aparelhos de última geração com desenvoltura, utilizando seu conhecimento (os das máquinas) para tratar de debelar as patologias que Ihes aparecem nos plantões, no dia a dia, assim também como nas enfermarias, todos discutem qual a melhor cobertura para as úlceras por pressão existentes no andar.  

Sou de um tempo em que tais úlceras se chamavam escaras e estavam relacionadas com pouco apreço ou com a sobrecarga da equipe em mobilizar o paciente, virá-lo, sentá-lo, tocá-lo.

Porém, hoje não vejo nesses profissionais, um apego pelas relações humanas supra profissionais e interpessoais desses pacientes já citados. Eles são somente, um número de leito ou uma patologia escrita em quadro branco ou em um livro de registros de pacientes. Não vejo em prescrições de Enfermagem (quando elas existem) a abordagem de aspectos humanos e psicológicos, como isso pudesse ser dissociado do paciente deitado em seu leito.
 Uma outra prova do que eu citei acima, a tal desvalorização da vida pelos profissionais de saúde, é que, na hipótese de termos alguém de nossa família ou conhecido internado em algum hospital (principalmente público), nos ocorre a seguinte pergunta:
Quem eu conheço nesse lugar? Quem das minhas relações conhece alguém nesse lugar?
O fato é que outros profissionais vêm ocupando esse espaço.
 Minha mãe, internada recentemente, tem sido muito melhor tratada pela equipe de Fonoaudiologia e Fisioterapia como ser humano, do que a equipe de Enfermagem do hospital inteiro. 
Onde foram parar os conceitos humanistas de nossa formação? Será que pelo desgaste de nossas próprias atividades, hoje já tão pulverizadas, elas se perderam? Ou será por uma mudança no eixo de nossa prática diária, levando a uma sublimação de tais aspectos?
 É evidente que existem muitas exceções ao que agora escrevo, mas, venho através desse espaço propor uma provocação/ reflexão disto.
Vou interromper o raciocínio e perguntar: Eu estou escrevendo um absurdo? Isto é uma peça de ficção? 
Se sim, pode parar de ler agora, você não está nesta situação, e portanto não vai se interessar pelo resto do texto. 
Se não, como deveremos rediscutir a nossa prática e nossos papéis dentro de nossas unidades de trabalho, sempre começando pela mudança interna de nossos conceitos e atitudes, para que possam causar mudanças ao nosso redor, a começar por nossa prática junto aos nossos pacientes, atingindo nossos outros colegas de trabalho, como um efeito cascata. 

Não seria bom? 




Por Cláudio Carneiro
Enfermeiro na Policlínica Rodolpho Rocco

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